Levam os jamaxins com as mandiocas, as mulheres,
seus pés afloram às margens do rio.
Kuambu vê passar Kupahúba
e um rio imaginário lhe percorre
a mente: é uma corrente que atrai
para si todos os rios da terra.
A pele ardia, fecha os olhos,
o sol caricias silenciosas sobre o corpo
de Kupahúba, tocando seus pequenos seios.
É ainda muito jovem Kupahúba e ele
deverá esperar o seu ritual de iniciação
amorosa. Com a mente viaja
entre o ar e as nuvens. Ontem sonhou
um dente que voava e um odor desconhecido.
Na praça com as outras Kupahúba se prepara
para ser iniciada. Por três meses
ele não a verá. Tudo roda, roda.
Ela chega perto dele e ele sorri.
Dentro do seu corpo uma força devora
as águas dos rios e das lagoas.
É ele Mboi-Guaçú que com mil olhos
que a envolverá e abraçará Kupahúba
mas o amor atenuará a força
“Mboi-Guaçú vai embora” implora Kupahúba
Kupahúba pensava de sonhar
nem se despediu da pintassilga
nem da saracura. Todos conhecem
a devastação que à sua passagem
Mboi-Guaçú deixa em uma aldeia.
Sem piedade o tempo escorre no corpo
das plantas e dos animais,
Mboi-Guaçú perdeu as suas cores acesas,
permanece somente o brilho dos olhos
sob o luar.
Balançado pelo vento o murici
sacode os frutos dos ramos.
Aflitos os pequenos animais que habitam
as arvores vivem o tumulto.
Agora o canto cresce sempre mais
os maracás dos pajés entoam evocações.
O sol da manhã se insinua com seus raios
o canto dos pássaros o acompanha
os gritos dos animais. E a floresta
respira aliviada.
Mboi-Guaçú desapareceu.
Márcia Theóphilo - 2000
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